Resenha: O Vilarejo - Rafael Montes

Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome.

As histórias podem ser lidas em qualquer ordem, sem prejuízo de sua compreensão, mas se relacionam de maneira complexa, de modo que ao término da leitura as narrativas convergem para uma única e surpreendente conclusão.

Avaliação: ☻☻☻☻☺(4/5)                 93 Páginas             Suma

É Halloween, pelo menos enquanto escrevo essa resenha, e de todos livros com essa temática que li nessa semana, esse foi o que mais chegou perto de dar medo. Ao inciar a leitura esperava uma coisa e foi me apresentado algo totalmente diferente, o que me fez gostar mais do que teria gostado da obra se fosse o que eu pensei originalmente.

Em um vilarejo no meio do nada, casos estranhos acontecem ao longo do tempo, histórias horripilantes que mostram o pior da humanidade, podendo cada um desses acontecimentos ser associado com um dos sete pecados capitais. Mais tarde, um padre demonologista que toma conhecimento da história do local, associa cada um dos pecados a um demônio.

O caráter do homem é o seu demônio.

- Heráclito.

Sempre é difícil resenhar um livro de contos, nunca se sabe se deve falar da obra como um todo ou de cada uma das histórias separadamente. Com O Vilarejo não tive esse problema. A obra consegue que cada conto seja uma parte de um todo, eles estão interligados, lendo um você entende o outro, você reconhece os personagens e assim acaba descobrindo o presente (conto do mesmo), passado e futuro (contos dos outros). Sem comentar o Prefácio e o Posfácio que não são contos, mas são essenciais para criar o clima de confidencialidade e terror no livro, garantindo uma ótima leitura, que ele não seja só mais um livro de contos.

O mundo não se resume a este vilarejo no meio do nada, sr. Ivan. Existem outras línguas.

 E outros tons de pele. O fato de sermos todos brancos, de olhos claros, não nos torna

 melhores ou piores.

Já mencionei que tinha pensado que o livro fosse uma coisa e na verdade era outra. Achava que a obra tivesse forte presença sobrenatural, como tantos filmes de terror com premissa parecida, porém quase não aborda-se esse aspecto, e ele poderia até não aparecer, de tão desnecessário que torna-se perante ao pensamento que toma a nossa mente durante a leitura, o de que o verdadeiro "demônio" é o ser humano. Isso em alguns momentos me lembrou a segunda temporada de American Horror  Story, Asylum, principalmente pelos finais chocantes - e até revoltantes - dos contos.

O livro é pequeno e de leitura rápida e fácil, cada conto consegue ser lido em 15 minutos. Gostei bastante do final, não era algo exatamente esperado e fez com que teorias rodassem na cabeça do leitor.